outubro 29, 2010

O Povo Brasileiro

A busca por metais e o pioneirismo ibérico nas grandes navegações marcou
definitivamente, durante o século XVI, a formação social e cultural naquela que
viria a ser a maior colônia lusitana. O índio nativo, o colonizador português e o
trabalhador africano formaram as bases de um país marcado pela miscigenação
e pelo sincretismo.
M. Ouriques

A colonização na América Portuguesa desenvolve-se economicamente baseada no empreendimento agrícola e no latifúndio monocultor, e para tanto a metrópole lusa fez uso da mão-de-obra escrava, primeiramente indígena e com seu insucesso recorreu - e por mais de três séculos- aos negros africanos.

Darcy Ribeiro em sua obra O Povo Brasileiro retorna ao período colonial para mostrar a confluência destes povos que se encontraram ao longo da história brasileira em diferentes realidades históricas.

Partindo da raiz tupi, Darcy Ribeiro enfatiza nos primeiros habitantes do país a cultura de subsistência através da agricultura, da caça e da pesca. Entre os tupinambás fica clara a divisão de trabalho entre homens – que ficavam responsáveis pela caça e pesca – e as mulheres – que se ocupavam com o preparo da roça, da alimentação e do cauim. A integração dos tupinambás com a natureza é marcado pelo uso comunal da terra.

Voltando-se para Europa o autor mostra que, mesmo antes da expansão marítima, os portugueses já estavam voltados para o mar na atividade pesqueira. A tecnologia naval, influenciada por árabes e judeus, foi desenvolvida em Portugal por uma questão de sobrevivência.

Finalmente a raiz africana - a força motriz que sustentou a economia do país da Colônia ao Império - formou a massa substancial do trabalho no Brasil. Foi com a atividade açucareira que a mão-de-obra negra consolidou-se na América Portuguesa, principalmente no nordeste brasileiro. Para o cultivo deste produto era necessário um grande contingente de mão-de-obra, não só na extração como no trabalho nos engenhos.

A escravidão era amplamente difundida na África e o escravo era considerado como sendo a única forma de propriedade privada. Inata a sociedade africana, a escravidão e por natural conseqüência o comércio de escravos já faziam parte das características da estrutura social daquele continente. Os europeus entraram em um mercado já existente, e o comércio atlântico de cativos foi o resultado dessa escravidão interna atrelado com a necessidade da mão-de-obra apta para suprir as necessidades da coroa portuguesa.

As grandes marcas da economia, durante o processo de colonização do Brasil, foram à grande propriedade, a monocultura e o trabalho escravo. A colônia organizar-se-ia social e economicamente voltada para o exterior, conforme o sentido da colonização, fornecendo para o mercado europeu produtos como o ouro, o açúcar, o algodão, tabaco, café. Mas em momento algum se trabalhou para o desenvolvimento interno da colônia.

O contato do português com o nativo indígena deu-se em um processo de dominação cultural, o colono incorporou a doutrina cristã, bem como sua língua e costumes. E do dominado ainda emerge-se os hábitos, a musicalidade, a dança, o folclore. O escravo africano, que não deixou somente a dor dos tumbeiros e do trabalho forçado, ficou a construção de um país sustentado por séculos pelas suas mãos, e o sentimento de resistência à dominação do povo lusitano.

"[...] Todos nós, brasileiros, somos carne da carne daqueles negros e índios supliciados. Todos nós brasileiros somos, por igual, a mão possessa que os supliciou. A doçura mais terna e a crueldade mais atroz aqui se conjugaram para fazer de nós sentida e sofrida que somos e a gente insensível e brutal, que também somos. Como descendentes de escravos e de senhores de escravos seremos sempre servos da maldade destilada e instilada em nós, tanto pelo sentimento da dor intencionalmente produzida para doer mais, quanto pelo exercício da brutalidade sobre homens, sobre mulheres, sobre crianças convertidas em pasto de nossa fúria."

RIBEIRO, Darcy. O Povo Brasileiro: A formação e o sentido de Brasil. 2ª ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

Nenhum comentário:

Postar um comentário