setembro 18, 2009

Império Bizantino

Grande mozaico de culturas, assim foi o Império Bizantino: a fusão da tradição helenística com a tradição romana realizada através do cristianismo.
M. Ouriques


As estruturas culturais

A civilização bizantina constitui-se em um verdadeiro mosaico, britânica por sua tradição e conservadorismo, polonesa em sua fé, grega em suas especulações e ironia, italiana em sua sensibilidade e emotividade, espanhola em seus excessos. Porém qualquer tentativa de definição ou rotulação desta sociedade poderá estar fadada ao fracasso.
Durante muito tempo atribui-se a Bizâncio a falsa idéia do papel de compilador, isto em razão do forte conservadorismo presente em suas estruturas. Isto é devido a forte tradição grega clássica e helenística, que contribuiu fortemente para sobrevivência deste Império.
Analisando com maior rigor podemos ver que não se trata de uma civilização estática, reprodutores de velhos modelos de velhos modelos. Sua longa história nos mostra elementos de transformação e mudanças como às reformas de Heráclio, dos Isáurios, que demonstra a maleabilidade e capacidade de adaptação do Império. Tradição e mudança coexistem simultaneamente na civilização Bizantina.
O cristianismo assume e incorpora a tradição clássica, determinando o estilo do novo edifício e imprimindo-lhe um formato especial e original. Porém apesar de vitorioso, o cristianismo não promoveu grandes mudanças na formação educacional do povo bizantino. O ensino religioso processava-se paralelamente ao laico e era efetuado por um clérigo. O estudo iniciava-se em torno dos seis anos, quando o aluno tinha os primeiros contatos com as letras, após a gramática e suas declinações (conjugações e sintaxe) e contato com os clássicos como Homero. O estudo era acompanhado por um pedagogo e entre os 18 e anos passava-se as universidades e ao início do estudo da filosofia, que representou uma paixão na vida do bizantino, conhecimentos gerais de matemática, geometria, música e astronomia.
Durante o século XI a universidade de Constantinopla retomou e constitui Platão, as vezes sob desconfiança da Igreja e do Estado , até a última dinastia do Império.
A matemática, a geometria e a música prosseguiram sem grandes mudanças. Já a teologia prosseguiu como uma ciência a parte devido as suas grandes sutilezas, não havendo grandes destaques entre os laicos.
O latim, após Justiniano, em termos de língua era somente utilizado em cunhagens e citações. Já o grego estava presente no estudo da poesia clássica exigindo uma pronúncia Ática antiga.
A medicina e a química pouco progrediram, a geografia cresceu na cartografia. A mecânica realizou progressos em função da engenharia. Na arquitetura o maior destaque da-se a Igreja da Sagrada Sabedoria construída entre 532-537 em Santa Sofia por Artêmio de Trales e Isidoro de Mileto.
Na verdade os progressos na arquitetura bizantina não terminaram em Santa Sofia, como por exemplo, a construção dos mosteiros de Hosias Lucas (século X) e o de Dafni (século XI).
O Direito após Justiniano ressentiu-se do declínio do latim e do ensino entre os séculos VII e IX. Em 1405 Constantino IX funda a escola de Direito obrigando todos os advogados com pretensões de exercer a profissão de freqüentá-la, demonstrando claramente o quanto o autodidatismo havia feito decair seu conhecimento.
A literatura inaugurava os estudos do bizantino e primava-se pelos autores clássicos. Permanece grega e erudita, arcaica, imitativa e artificial. A literatura teológica, uma das grandes paixões do império-cristão, é um dos poucos ramos que escapa da letargia. O pensamento grego uniu-se ao cristão e diversas obras adaptaram os filósofos gregos em defesa da religião.
A História, porém, salvará a literatura sendo uma de suas mais notáveis contribuições. Ela já era detentora de grande tradição clássica e contava com nomes de peso, como Heródoto e Tucídedes.
Grande parte do sucesso deste gênero da literatura bizantina deve-se à concessão que fizeram seus autores à língua corrente; também o interesse que a história despertava na população.
Afora a história, a crônica e o início da literatura teológica, Bizâncio reservou-se o papel de preservadora minuciosa da tradição e da filosofia clássica.
A coexistência da tradição com a mudança, elo dinâmico da Roma Oriental encontra uma de suas sínteses mais completas nas artes.
A arte bizantina é, sobretudo religiosa, “mas nem por isso cristã” (Ruciman). O sopro inovador provém do oriente com sua arte mais direta, mais mística, rompendo ou adaptando a fluidez e a naturalidade da arte helênica. Este maior misticismo e simplicidade vêm diretamente aos interesses da Igreja. O império terrestre deveria refletir os esplendores do “celeste”. A arte religiosa avança sobre temas como a Paixão de Cristo; a iconografia sobre Cristo, a Virgem e os Profetas; a temática profana sobre os triunfos imperiais.
Mas a sobrevivência da delicadeza e sofisticação clássica é garantida através das miniaturas e ilustrações ou iluminuras que, por vezes, inspiravam os mosaicos. No geral, escultura sobreviverá como arte decorativa.
O período que se segue ao governo de Justiniano (527-565) é extremamente conturbado por perigos externos. A necessidade de defesa do império interrompe o incentivo material em grande escala às artes. Não houve na verdade um repúdio as artes de uma maneira geral, mas especificamente as de conteúdo religioso. A iconografia permaneceu viva dentro dos mosteiros e obteve o respaldo popular. Desta época saem os elementos que elaboram a segunda idade de ouro da arte bizantina.
Cores, movimento, refinamento. A arte profana triunfa e invade a arte religiosa através de seu classicismo e de seu realismo, dando o tom em que se fixará definitivamente a iconografia.
A conquista latina de Constantinopla provocou a dispersão, mas não a interrupção da evolução da evolução artística. Os contatos com o Ocidente latino incrementam as trocas de influências; na verdade Bizâncio mais cede que recebe.
A escola de Bolonha revive o direito de Justiniano e auxilia o crescimento do poder das monarquias frente ao da Igreja e dos senhores feudais.
Ocidente e oriente lhe serão grandes tributários. No Ocidente, a civilização da renascença; no Império Turco-Otomano,a adaptação de suas formas político-administrativas às do antigo Império Bizantino, enquanto a igreja Ortodoxa conserva viva a civilização da Roma Oriental.
Em sua vida, Bizâncio soube conciliar elementos tão contraditórios como a tradição e a mudança. Pois foi essa mesma capacidade sempre presente em sua civilização que lhe colheu uma última vitória diante de seu declínio iminente: a imortalidade.

O legado de Bizâncio


Os três componentes históricos de Bizâncio: a tradição helenística, a tradição romana e a tradição cristã.
De uma maneira geral o Império Bizantino era grego na língua, literatura, teologia e culto, mas romano no direito, na organização militar, diplomacia, política fiscal, concepção de supremacia do Estado.
Não podemos deixar de citar o cristianismo, sua tradição tinha sua personalidade , não podendo ser considerada como apenas um apêndice da cultura clássica, mas como sendo uma entidade histórica , cumprindo um papel de ligação entre as duas.
O Império Bizantino foi a fusão da tradição helenística com a tradição romana realizada através do cristianismo.
Os grandes beneficiados pelo papel histórico civilizador do Império Bizantino foram os povos eslavos da Europa Oriental. Eles foram cristianizados por missionários bizantinos e junto com a religião puderam receber noções de governo, principalmente de direito, elementos de cultura intelectual a artística.
O desaparecimento do Império Bizantino diante dos turcos não pôs fim à sua civilização, a Rússia que entrara em sua órbita de influência no século X, proclamou-se sua herdeira continuadora, adotando o mesmo símbolo imperial da água bicéfala, a mesma autocracia que fazia o czar (isto é, “césar”) ser visto como vice-rei de deus, a mesma religiosidade ardente e missionária que reuniu várias nacionalidades sob o Império da Santa Rússia. Tornou-se Moscou, enfim, a sucessora de Constantinopla.
“Moscou, a terceira Roma”

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