julho 07, 2009

Africanos: o elemento negro na América

Falar de africanos é lembrar de escravidão, de racismo, de resistência e luta.
Legalmente já foram tratados como produtos de compra e venda.
E neste contexto que perdurou da Colônia ao fim do Império no Brasil, foi o africano que com seu braço foi a maior força de trabalho que sustentou esse país por tantos anos, à eles deve-se o respeito, a admiração por ter resistido e resistir à mesquinharia de um povo que precisa ter o racismo definido como crime dentro de seu código penal, pois o preconceito ainda reside no povo.
Mais de cento e vinte anos já se passaram da Abolição da Escravidão no Brasil, e quantos mais precisarão passar para se notar que um país etnicamente e culturalmente híbrido deve sempre valorizar suas raízes.?

M. Ouriques


A necessidade de importar a mão-de-obra negra


A colonização na América portuguesa desenvolveu-se baseada economicamente no empreendimento agrícola, e o latifúndio monocultor precisava de uma mão-de-obra permanente que pudesse suprir as necessidades da coroa lusitana.
Com o sistema capitalista ainda nascente, Portugal não teria como utilizar-se de mão-de-obra assalariada na colônia. Para tanto o primeiro braço utilizado no trabalho na fase inicial da lavoura canavieira foi o nativo indígena, que insubmisso protestou à tirania portuguesa e embrenhou-se na floresta virgem.
Para manter a concretização de seus ideais de exploração da colônia, Portugal buscou outra alternativa de mão-de-obra: o africano.
Este novo “elemento” surgirá especialmente durante o século XVII provenientes dos grupos étnicos bantos, da África Equatorial (Congo, Guiné, Angola) e sudaneses da África Ocidental (Sudão e norte da Guiné).Porém o negro não é um desconhecido colonizadores portugueses, pois já estavam presentes na Península Ibérica desde a ocupação moura, viviam só na metrópole mais de trinta mil deles. Portugal firmou então seus domínios no continente negro, retirando

(...) o braço possante do africano para impulsionar e intensificar a produção de cereais e da cana-de-açúcar e desentranhar do seio da terra o diamante e metais preciosos

O negro já estava preparado para o trabalho que o esperava, pois o árabe já havia introduzido os conhecimentos ao africano, satisfazendo as necessidades rudimentares de vida. Portanto, o colono negro já estava familiarizado com o trabalho na agricultura e na mineração.
Os portugueses saídos de uma região de clima temperado, vindo estabelecer-se nos trópicos americanos seriam incapazes de resistir ao clima, foi essencial importar desde cedo o africano, fisicamente mais resistente e capaz, um braço muito mais afeito à força e a luta para desbravar florestas e trabalhar a terra.
Ao surgir então esta necessidade na mão-de-obra na colônia americana recorre-se ao tráfico negreiro, uma atividade muito rentável e que logo gerou uma grande acumulação de lucros para Portugal. Ao contrário do índio, onde o capital obtido com seu comércio não chegava até a metrópole. Dentro em pouco, navios negreiros começaram a despejar negros na costa americana, as centenas, destinados ao trabalho braçal, em especial o agrícola.

O tráfico atlântico, a longa viagem até a América

A escravidão era amplamente difundida na África e o escravo era considerado como sendo a única forma de propriedade privada. Inata a sociedade africana, a escravidão e por natural conseqüência o comércio de escravos já faziam parte das características da estrutura social daquele continente. Os europeus entraram em um mercado já existente, e o comércio atlântico de cativos foi o resultado dessa escravidão interna atrelado com a necessidade da mão-de-obra apta para suprir as necessidades da coroa portuguesa.
O transporte de escravos para o novo mundo era basicamente feito em naus, conhecidos também como tumbeiros, muito destes, aliás, já haviam sido utilizados em outras ocasiões para transportar produtos da Índia, o que leva a perceber a falta de estrutura suficiente para o transporte humano. A distribuição dos escravos dos navios era feito por categoria: homens adultos, crianças, mulheres e grávidas, cada qual em distintos patamares. Havia guardas impondo a disciplina em cada uma destas divisões.
“Os cativos viajavam assentados em filas paralelas, de uma à outra extremidade de cada cobertura, cabeças sobre o colo dos outros que seguiam imediatamente. (...) os negros navegavam amontoados uns por cima dos outros.”, além do mau alojamento, falta de higiene, falta de água, de alimentos, conviviam com doenças que por muitas vezes fizeram vítimas fatais ainda no percurso da viagem, que durava em média quarenta e cinco dias.
Antes do embarque as peças recebiam um batismo coletivo, pois em caso de morte no mar, não seria um pagão a perder-se nas águas.
A questão do transporte é notável foi feito de maneira subumana, e foi para os portugueses um negócio extremamente lucrativo, prova disto é o número de cativos desembarcados na América. Que, segundo Paul Lovejoy chegou a soma de quase 12 milhões de africanos desembarcados no Brasil, sendo o século XVIII o auge do tráfico, mas esses números deixam escapar o número de vidas perdidas na dura travessia.

Mas o lucro proveniente do tráfico de escravos africanos era só o início da exploração que os negros seriam submetidos em terras americanas



O trabalho escravo


O Brasil – colônia foi uma sociedade escravista não meramente devido ao óbvio fato de sua força de trabalho ser predominantemente cativa, mas principalmente devido às distinções jurídicas entre escravos e livres, aos princípios hierárquicos baseados na escravidão e na raça, às atitudes senhoriais dos proprietários e à deferência dos sociamente inferiores

Como visto anteriormente a escravidão, ou o trabalho escravo, já era imanente ao continente africano, e considerada uma instituição, o negro veio para a América aparelhado para o trabalho que o esperava aqui, como caçador, ferreiro, agricultor, mineiro. Foram responsáveis pela introdução de métodos agrícolas desenvolvidos em sua terra natal, transplantaram produtos africanos que logo começaram a fazer parte da alimentação do colono. A agricultura foi a fonte inicial e perene da riqueza do país, em especial e primeiramente a extração da cana-de-açúcar, depois o tabaco, algodão e café. O escravo negro também foi escalado no trabalho de mineração e em serviços domésticos
Foi com a atividade açucareira que a mão-de-obra negra consolidou-se na América Portuguesa, principalmente no nordeste brasileiro. Para o cultivo deste produto era necessário um grande contingente de mão-de-obra, não só na extração como no trabalho nos engenhos. Importante lembrar que mesmo em escala menor a mulher escrava também trabalhou na lavoura.
Com o crescimento desta atividade econômica intensificou-se o tráfico negreiro nesta região, e em 1549 ele foi legalizado através de um decreto de rei D. Sebastião.
A mineração, ocorrida nas regiões de Goiás, Mato Grosso e principalmente Minas Gerais, teve seu auge durante o século XVIII e intensificou a economia na colônia, antes apoiada na monocultura açucareira. A extração aurífera foi feita com o trabalho escravo negro. Além dessa outras atividades desenvolveram-se secundárias a mineração, como a pecuária onde os cativos também trabalhavam.
Outra importante atividade exercida pelo escravo foram as funções domésticas, onde trabalhavam na casa de seus senhores, surgindo a mucama, a ama de leite, os pajens, os guarda-costas e criados de estima. Nestes destacando-se mais a figura da mulher negra do que do homem.
“Os castigos eram comuns e permitidos por lei com o aval da igreja. As Ordenações Filipinas sancionaram a morte e a mutilação dos negros como também o açoite.”. Este não era o único tipo de punição sofrida pelo escravo, ainda era utilizada a palmatória, o chicote, uso de cera quente, retalhamento com facas, sem contar que muitos por não aceitarem o trabalho escravo, suas punições, a saudade de sua terra acabavam cometendo o suicídio.
Foi o trabalho escravo que sustentou por séculos a nobreza e a prosperidade do Brasil, foi com o produto de seu trabalho que tivemos as instituições científicas, a indústria, o comércio, as artes. O negro já foi visto e revisto pela história brasileira como a vítima da sociedade, apagam-lhe sua memória étnica e histórica. O mesmo escravo açoitado exerceu total influência na formação nacional do Brasil, situa-lo historicamente é vê-lo como agente coletivo histórico desde a origem da escravidão nestas terras.




LOVEJOY, Paul. A escravidão na África: uma história de suas transformações. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002


SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e segredos na sociedade colonial: 1550-1835. São Paulo: Cia das letras, 1988


SALVADOR, José Gonçalves. Os magnatas do Tráfico Negreiro. São Paulo: Pioneira/Edusp, 1981


QUERINO, Manuel. O colono preto como fator da civilização brasileira. Imprensa Oficial do Estado da Bahia, 1918
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Um comentário:

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