No texto A política da saúde no século XVIII, da obra Microfísica do Poder, Foucault mostra como a questão da saúde virou foco do poder sobre a vida:
O surgimento progressivo da grande medicina do século XIX não pode ser dissociado da organização, na mesma época, de uma política da saúde e de uma consideração das doenças como problema político e econômico.
Desse modo, é possível relacionar a emergência de novos padrões de comportamento que definiam condutas a serem ou não toleradas, com a identificação e a classificação dos segmentos pobres da população como um ameaça à ordem social, o que desencadeou um processo de segregação destes espaços definidos e isolados a partir de políticas de saneamento que adquiriam conotações ‘físicas’ e ‘morais’.
Dentro do cenário europeu, Foucault afirma que “não se trata mais do apoio a uma franja particularmente frágil da população, (...) mas de maneira como se pode elevar o nível de saúde do corpo social em seu conjunto”.
Segundo Michel Foucault, essa preocupação com a saúde do corpo social provém da emergência de uma manutenção da mão-de-obra e mais ainda, ao crescimento demográfico da Europa. Havia, portanto, a necessidade de organizar esse novo e grande corpo social a fim de adequá-lo ao aparelho de produção.
Ainda que a capital catarinense tivesse uma economia tímida, nas primeiras décadas do século XX pairava na elite local um sentimento em prol da modernização da cidade, buscando segundo Neckel, “ultrapassar em direção aos modernos padrões burgueses de urbanização e de organização social e que deveriam, sem maiores delongas, ser impostos à população”.
As práticas sociais normalizadas e padronizadas demonstram o controle do Estado sobre a vida, ficando clara, portanto, a intervenção concreta deste no corpo social.
O que ocorreu em Florianópolis nas primeiras décadas do século XX foi uma remodelação dos hábitos da população e no cenário da cidade:
A idéia de transformar comportamentos de toda uma população para alcançar uma cidade civilizada, estas novas maneiras de intervir no controle da sociedade vem de encontro ao discurso de Foucault, onde “uma sociedade normalizadora é efeito histórico de uma tecnologia de poder centrada na vida”
Referências
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. rio de Janeiro: Graal, 1979
FOUCAULT, Michel. Microfísica do Poder. Rio de Janeiro: Graal, 1979
NECKEL, Rosaleane. A República
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