dezembro 29, 2010

Escravidão em Nossa Sra de Desterro

Ainda que diferente de outras regiões do Brasil, Nossa Sra do Desterro também fez uso do trabalho escravo africano em suas terras. Ora, na agricultura e na produção de farinha de mandioca, ora em trabalhos domésticos. A presença negra na capital catarinense é tema pesqusiado com muita seriedade pela historiografia, porém de pouco conhecimento geral. A associação da população florianopolitana com os açorianos é tamanha que cobre até sua raiz portuguesa , quiçá a africana.
M. Ouriques


Paralela aos grandes centros agroexportadores no Brasil durante o Império, a vila de Nossa Senhora de Desterro, capital da província de Santa Catarina, hoje Florianópolis, ainda no século XIX apresentava uma atividade econômica tímida, onde a produção agrícola funcionava com uma mão-de-obra pequena e estável.
Mesmo não sendo uma produção de grande monta é essencial enfatizar que, muito do trabalho agrícola - mesmo que só em findos deste mesmo século a exportação de mandioca fosse se tornar a maior fonte de arrecadação da província - e também do trabalho urbano eram ambos mantidos por escravos africanos e crioulos
Os lúcidos começos de estudos sobre a população escrava nesta região foram apresentados por Walter Piazza, com um grande levantamento sobre o número destes sujeitos e por Oswaldo Rodrigues Cabral que no segundo volume da obra Nossa Senhora do Desterro: memória, também porá na mesa os primeiros passos desta historiografia.
Santa Catarina começou a receber africanos na segunda metade do século XVIII. O historiador Walter Piazza mostra que no ano de 1856, a população de escravos era de 18.187 representando 16% da população total. Já em Desterro o sociólogo Fernando Henrique Cardoso levantou o número de 3.978 escravos, representando 19% do total de habitantes. Mas a presença africana já havia se mostrado ainda mais significativa no censo de 1835, onde a população escrava representava 29% da população catarinense, conforme enfatizou Beatriz Gallotti Mamigonian, esse maior número se deu por conta dos contratos de armações de caça às baleias no litoral catarinense, onde a mão-de-obra de escravos foi muito utilizada.
Muito embora a Ilha tivesse condições para receber o comércio de escravos, no que diz respeito ao porto natural favorável para receber navios de grande porte, os escravos provinham de outros mercados como o Rio de Janeiro, que possuía um porto significativamente muito mais intenso que o de Desterro. Aliás, a população escrava na então capital do Brasil era de 110.000 indivíduos o que totalizava 41,3% do total da população local, conforme Luiz Felipe Alencastro. O mesmo autor ainda enfatiza que no primeiro recenseamento nacional, feito em 1872, a população de escravos era de 9.915.000 indivíduos representando 15,2% do total da população nacional. Pode-se notar, portanto que Desterro não estava longe da média nacional e por alguns períodos esteve acima deste número, mesmo que se leve em consideração que o ano do recenseamento já se apontava para a abolição da escravidão brasileira.
Essencial aqui é que se perceba a presença da mão-de-obra africana na Ilha de Santa Catarina, nacionalmente conhecida por sua colonização açoriana. Os africanos também fizeram parte do desenvolvimento econômico da cidade desde o século XVIII, tanto no trabalho agrícola como em outros setores econômicos.

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