M. Ouriques
Paralela aos grandes centros agroexportadores no Brasil durante o Império, a vila de Nossa Senhora de Desterro, capital da província de Santa Catarina, hoje Florianópolis, ainda no século XIX apresentava uma atividade econômica tímida, onde a produção agrícola funcionava com uma mão-de-obra pequena e estável.
Mesmo não sendo uma produção de grande monta é essencial enfatizar que, muito do trabalho agrícola - mesmo que só em findos deste mesmo século a exportação de mandioca fosse se tornar a maior fonte de arrecadação da província - e também do trabalho urbano eram ambos mantidos por escravos africanos e crioulos
Os lúcidos começos de estudos sobre a população escrava nesta região foram apresentados por Walter Piazza, com um grande levantamento sobre o número destes sujeitos e por Oswaldo Rodrigues Cabral que no segundo volume da obra Nossa Senhora do Desterro: memória, também porá na mesa os primeiros passos desta historiografia.
Santa Catarina começou a receber africanos na segunda metade do século XVIII. O historiador Walter Piazza mostra que no ano de 1856, a população de escravos era de 18.187 representando 16% da população total. Já em Desterro o sociólogo Fernando Henrique Cardoso levantou o número de 3.978 escravos, representando 19% do total de habitantes. Mas a presença africana já havia se mostrado ainda mais significativa no censo de 1835, onde a população escrava representava 29% da população catarinense, conforme enfatizou Beatriz Gallotti Mamigonian, esse maior número se deu por conta dos contratos de armações de caça às baleias no litoral catarinense, onde a mão-de-obra de escravos foi muito utilizada.
Muito embora a Ilha tivesse condições para receber o comércio de escravos, no que diz respeito ao porto natural favorável para receber navios de grande porte, os escravos provinham de outros mercados como o Rio de Janeiro, que possuía um porto significativamente muito mais intenso que o de Desterro. Aliás, a população escrava na então capital do Brasil era de 110.000 indivíduos o que totalizava 41,3% do total da população local, conforme Luiz Felipe Alencastro. O mesmo autor ainda enfatiza que no primeiro recenseamento nacional, feito em 1872, a população de escravos era de 9.915.000 indivíduos representando 15,2% do total da população nacional. Pode-se notar, portanto que Desterro não estava longe da média nacional e por alguns períodos esteve acima deste número, mesmo que se leve em consideração que o ano do recenseamento já se apontava para a abolição da escravidão brasileira.
Essencial aqui é que se perceba a presença da mão-de-obra africana na Ilha de Santa Catarina, nacionalmente conhecida por sua colonização açoriana. Os africanos também fizeram parte do desenvolvimento econômico da cidade desde o século XVIII, tanto no trabalho agrícola como em outros setores econômicos.
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