A capital catarinense foi, em 1979, destaque no movimento da sociedade civil contra a ditadura. A Novembrada, iniciada com o movimento estudantil dos integrantes do DCE da UFSC tomou proporções muito maiores quando passou a contar com o apoio da população florianopolitana.
O movimento de pressão contra a ditadura por parte da população da capital catarinense não teve efeito decisivo no que tange a abertura política do Brasil.
Porém dentro de um estado repressor ditatorial ou no atual estado repressor "democrático", o que jamais pode se calar é o direito individual e coletivo da inconformidade.
M. Ouriques
Para compreender o processo de abertura política no Brasil é preciso antes situá-lo no bojo de uma crise maior. Internacionalmente a grande potência mundial, os EUA, não apoiava nações que violavam os direitos humanos. Havia um discurso medicalizado das ditaduras que eram chamadas de cancro ou câncer. Mesmo tendo apoiado o golpe, como já mencionei anteriormente em outro post, os EUA não aceitavam mais estados repressores como aliados.
O desejo dos militares era que a abertura fosse feita pelo alto, sem negociações e sem a força da oposição. O processo deveria se ser de forma lenta, gradual e segura.A pressão da sociedade civil configura-se como um fator interno que vale ser sublinhado. Movimentos sindicais, artísticos e estudantis mostraram a força de oposição vindo da sociedade contra o sistema vigente, pressionando, portanto, a abertura política.
Durante o governo de João Figueiredo surgiram campanhas publicitárias para que tornassem o governante em: João, o amigo do povo. E neste mesmo período o então presidente seria recebido aqui em Florianópolis, em 30 de novembro de 1979, por autoridades no Palácio Cruz e Sousa, antiga sede do governo estadual, localizado na Praça XV de Novembro. E na manhã deste dia um grupo de estudantes oriundos do DCE da UFSC caminhou em direção à Praça XV com faixas de “Abaixo a Fome”, “Abaixo a exploração” e ainda, “Pelo fim da ditadura”. O ambiente era de muita agitação, os estudantes envolvidos também já haviam se feito presentes na campanha pela anistia.
Figueiredo surgiu na sacada do palácio juntamente com o governador do estado Jorge Bornhausen, e segundo Celso Martins, antigo militante do PCB e jornalista, o presidente “olhou para baixo, contrariado. Os manifestantes observavam o presidente que, em dado momento, fez um gesto como indicador e o polegar, o que foi recebido como obsceno. Daí em diante foi um ‘Deus nos acuda’”.
As palavras de ordem vindas da população que aderiu a luta dos estudantes da UFSC e ainda das crianças que haviam sido levadas para apoiar e receber o presidente e que também aderiram o movimento era: “Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos que Figueiredo vá prá PQP”.
Toda “decoração” em torno da praça destinada à recepção do presidente foi arrancada e queimada. A comitiva dirigiu-se ao Ponto Chic, café localizado na Rua Felipe Schmidt, e foi onde ocorreram as agressões, colocando o Ministro César Cals no chão.
No dia seguinte veio a consequência de um Estado Ditador: os principais dirigentes estudantis foram presos: Rosângela Koerch de Souza, Sergio Giovanella, Marize Lippel, Geraldo Barbosa. O presidente do DCE da UFSC no período Adolfo Dias e sua namorada Ligia Giovanella fugiram para Blumenau como auxílio do fotógrafo Dário Prado, porém se entregaram no dia 05 de dezembro
No dia 02 de dezembro em reunião com o advogado Nelson Wedekin os mais de 200 estudantes organizaram -se para um ato público que ocorreria no dia 04, terça-feira.
Porém desta vez a polícia estava alerta e prevenida, cercando a sede do DCE, na Rua Álvaro de Carvalho. O protesto saiu da praça XV de Novembro e dispersou junto à estátua de Nereu Ramos, onde fica localizado o Tribunal de Justiça de SC.
Dentro de alguns dias os estudantes que haviam sido presos foram liberados. E sete anos após, os estudantes foram, enfim, inocentados.
Dentro de alguns anos a ditadura caiu.
Dentro de pouco tempo, eu espero honestamente, que a real democracia se faça. Pois ainda, e me envergonho, vivemos num estado que reprime e que pune quem verdadeiramente deve ser ouvido.
ReferênciaO movimento de pressão contra a ditadura por parte da população da capital catarinense não teve efeito decisivo no que tange a abertura política do Brasil.
Porém dentro de um estado repressor ditatorial ou no atual estado repressor "democrático", o que jamais pode se calar é o direito individual e coletivo da inconformidade.
M. Ouriques
Para compreender o processo de abertura política no Brasil é preciso antes situá-lo no bojo de uma crise maior. Internacionalmente a grande potência mundial, os EUA, não apoiava nações que violavam os direitos humanos. Havia um discurso medicalizado das ditaduras que eram chamadas de cancro ou câncer. Mesmo tendo apoiado o golpe, como já mencionei anteriormente em outro post, os EUA não aceitavam mais estados repressores como aliados.
O desejo dos militares era que a abertura fosse feita pelo alto, sem negociações e sem a força da oposição. O processo deveria se ser de forma lenta, gradual e segura.A pressão da sociedade civil configura-se como um fator interno que vale ser sublinhado. Movimentos sindicais, artísticos e estudantis mostraram a força de oposição vindo da sociedade contra o sistema vigente, pressionando, portanto, a abertura política.
Durante o governo de João Figueiredo surgiram campanhas publicitárias para que tornassem o governante em: João, o amigo do povo. E neste mesmo período o então presidente seria recebido aqui em Florianópolis, em 30 de novembro de 1979, por autoridades no Palácio Cruz e Sousa, antiga sede do governo estadual, localizado na Praça XV de Novembro. E na manhã deste dia um grupo de estudantes oriundos do DCE da UFSC caminhou em direção à Praça XV com faixas de “Abaixo a Fome”, “Abaixo a exploração” e ainda, “Pelo fim da ditadura”. O ambiente era de muita agitação, os estudantes envolvidos também já haviam se feito presentes na campanha pela anistia.
Figueiredo surgiu na sacada do palácio juntamente com o governador do estado Jorge Bornhausen, e segundo Celso Martins, antigo militante do PCB e jornalista, o presidente “olhou para baixo, contrariado. Os manifestantes observavam o presidente que, em dado momento, fez um gesto como indicador e o polegar, o que foi recebido como obsceno. Daí em diante foi um ‘Deus nos acuda’”.
As palavras de ordem vindas da população que aderiu a luta dos estudantes da UFSC e ainda das crianças que haviam sido levadas para apoiar e receber o presidente e que também aderiram o movimento era: “Um, dois, três, quatro, cinco, mil, queremos que Figueiredo vá prá PQP”.
Toda “decoração” em torno da praça destinada à recepção do presidente foi arrancada e queimada. A comitiva dirigiu-se ao Ponto Chic, café localizado na Rua Felipe Schmidt, e foi onde ocorreram as agressões, colocando o Ministro César Cals no chão.
No dia seguinte veio a consequência de um Estado Ditador: os principais dirigentes estudantis foram presos: Rosângela Koerch de Souza, Sergio Giovanella, Marize Lippel, Geraldo Barbosa. O presidente do DCE da UFSC no período Adolfo Dias e sua namorada Ligia Giovanella fugiram para Blumenau como auxílio do fotógrafo Dário Prado, porém se entregaram no dia 05 de dezembro
No dia 02 de dezembro em reunião com o advogado Nelson Wedekin os mais de 200 estudantes organizaram -se para um ato público que ocorreria no dia 04, terça-feira.
Porém desta vez a polícia estava alerta e prevenida, cercando a sede do DCE, na Rua Álvaro de Carvalho. O protesto saiu da praça XV de Novembro e dispersou junto à estátua de Nereu Ramos, onde fica localizado o Tribunal de Justiça de SC.
Dentro de alguns dias os estudantes que haviam sido presos foram liberados. E sete anos após, os estudantes foram, enfim, inocentados.
Dentro de alguns anos a ditadura caiu.
Dentro de pouco tempo, eu espero honestamente, que a real democracia se faça. Pois ainda, e me envergonho, vivemos num estado que reprime e que pune quem verdadeiramente deve ser ouvido.
MARTINS, Celso. Eles foram fazer um protesto. In: Revista História Catarina. Ano II, n. IX. Nov/Dez 2008. Páginas 40-43.
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